Arte de Volpi transgrediu padrões religiosos
Num domingo de 1962, os fiéis que chegaram à Igrejinha da 308 Sul para a tradicional missa da manhã encontraram as paredes da primeira capela de Brasília lixadas e cobertas por tinta. Desapareciam ali os afrescos concebidos quatro anos antes por Alfredo Volpi, o pintor que ousou transgredir os cânones da Igreja Católica e colheu, em troca, o apagamento de sua arte.
Interior da Igrejinha com pinturas de Francisco Galeano, datadas de 2009, e azulejos de Athos Bulcão na parede externa. Foto de Paula Simas
“Em texto ágil, preciso e instigante, Graça Ramos articula questões da história de Brasília, de sua arquitetura e de suas memórias. Como um caleidoscópio que transforma e cria novas imagens com os mesmos elementos, a jornalista e doutora em história da arte recupera fatos e movimenta uma trama entre Volpi, Niemeyer, JK e tantos outros personagens para revelar a complexidade da Igrejinha.”
Eduardo Pierrotti Rossetti
Arquiteto e professor da FAU-UnB
Vista aérea da Igrejinha recém-inaugurada, agosto de 1958.
Arquivo Público do DF/Foto de Mario Fontenele
“Um trabalho fundamental para todos aqueles pesquisadores, estudiosos e interessados não só na história das artes visuais no Brasil, como também na maneira como um debate estético e histórico se estabelece, em suas revelações e apagamentos, entre os agentes do campo, suas instituições, os críticos e o público.”
Fernanda Lopes
Doutora pelo Programa de Pós-Graduação da Escola de Belas Artes da UFRJ,
curadora independente e pesquisadora
Altar da Igrejinha.
Arquivo Público do Distrito Federal.
Painel da parede lateral.
Fundo Agência Nacional/Arquivo Nacional.
“No ensaio que lhes entrego, concluo que a reação aos procedimentos artísticos adotados por Volpi na Igrejinha, que culminaram com o apagamento dos afrescos, pode ser lida como primeiro choque cultural, de sentidos, para o projeto de Brasília. No jogo político que se estabeleceu em relação às paredes do triângulo sagrado da cidade, a tradição religiosa insurgiu-se contra novos signos, e à paisagem inovadora impôs-se a realidade conservadora. O conflito entre a liberdade de criação e o dogma foi vencido pelo último.”
Trecho do livro O apagamento de Volpi: presença em Brasília, de Graça Ramos
Jornalista, Graça Ramos é doutora em História da Arte pela Universidade de Barcelona e mestre em Literatura pela Universidade de Brasília. Pesquisadora e curadora independente, concentra-se em estudar expressões da arte e da arquitetura produzidas em Brasília.
É autora de Palácio do Planalto: entre o cristal e o concreto. Em coautoria com Eduardo Rossetti, publicou Palácio Itamaraty: a arquitetura da diplomacia, ambos publicados na Coleção Memória organizada pelo Instituto Terceiro Setor. Junto com Beth Cataldo, organizou o livro Brasília aos 50 anos: que cidade é essa? (Tema Editorial). Coordenou ainda a Coleção Brasilienses (Multicultural), que publicava perfis de personalidades ligadas à cultura da cidade.
Foi finalista do Prêmio Jabuti (2010) com o livro Maria Martins: escultora dos trópicos. É coautora de Escultores iluminados (ITS), dedicado à arte santeira do Piauí. Em literatura publicou: Ironia à brasileira – o enunciado irônico em Machado de Assis, Oswald de Andrade e Mario Quintana (Paulicéia).
Na área de literatura infantil, é autora de Habitar a infância: como ler literatura infantil (Tema editorial) e A imagem nos livros infantis: caminhos para ler o texto visual (Autêntica), ganhadores do Prêmio Altamente Recomendável da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil. Na ficção para crianças assina Casa do sabor e Vamos voar as trancinhas? (Autêntica), ilustrados por Francisco Galeno.