skip to Main Content

A comunicação, mais uma vez

A primeira semana de março foi sacudida por uma série de pesquisas de diferentes institutos que convergiram para o mesmo diagnóstico: a queda de popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de seu governo. Numa sequência implacável, Quaest, AtlasIntel e Ipec – depois corroborada pelo Datafolha – deram números ao fenômeno e colocaram a comunicação oficial no centro da discussão política.

O impulso de atribuir às falhas da comunicação do governo a responsabilidade pelos resultados colhidos foi uma reação previsível, mas que está longe de esgotar o debate. Pelo contrário, a controvérsia suscitada por esse diagnóstico desnudou a complexidade que o ambiente comunicacional assumiu nos dias atuais. O próprio ministro da Comunicação Social, Paulo Pimenta, colocado na berlinda, agarrou-se a essa evidência para contornar as críticas recebidas.

Na Esplanada dos Ministérios, embalada por indicadores econômicos satisfatórios, a surpresa foi ainda maior. Não era a economia a resposta para os índices de popularidade de um governo? A inflação não está controlada, o desemprego não diminuiu e a renda não aumentou? Nem é preciso repetir a famosa frase do assessor de Bill Clinton, basta levarmos em conta que a percepção sobre a predominância da economia se tornou hegemônica nos gabinetes políticos e entre os estrategistas de comunicação.

As recentes pesquisas tiveram o condão de quebrar essa convicção e abrir o leque dos cenários na tentativa de produzir um diagnóstico plausível sobre o difícil embate da popularidade – vital para qualquer governo. É claro que não é possível excluir a comunicação desse contexto, mesmo que se deva evitar a explicação simplista de que tudo se resume às questões desse campo. Mais equivocado ainda seria buscar em receitas antigas a saída para uma situação aflitiva aos olhos do Executivo.

Para um panorama mais amplo, vale a pena retroceder até 2011, quando Lula encerrava seu segundo mandato presidencial com nada menos do que 83% de aprovação, de acordo com a pesquisa do Datafolha à época. Apenas 13% consideravam seu governo regular e ínfimos 4% o classificavam como ruim ou péssimo. Um sucesso de tamanha grandeza que permitiu fazer de Dilma Rousseff, uma neófita em disputas eleitorais, sua sucessora.

Mudanças

Decorridos 12 anos entre o final do segundo mandato de Lula e o início de seu terceiro período no Palácio do Planalto, o mundo é outro. Naquele momento de 2011, as redes sociais ainda não tinham assumido a dimensão impressionante de hoje e o território político à direita era francamente rarefeito. O acirramento do embate político e ideológico encontrou nas redes e nos aplicativos, que se disseminaram na esteira da ampliação do acesso à internet, o meio propício para florescer.

No cenário anterior, a chamada mídia tradicional representada especialmente por veículos impressos e televisivos, além de emissoras de rádio em âmbito regional, mostrava um comportamento mais previsível e conhecido, a partir de padrões editorais longamente estabelecidos. Acrescente-se que os atores políticos e econômicos já dispunham de um arsenal de instrumentos para contrapor-se aos movimentos detectados nesse ambiente, acionando-os de forma ágil e eficiente.

O que predomina agora é a ausência de predição sobre comportamentos individuais ou de pequenos grupos – microcosmos que podem assumir um caráter errático e surpreendente ao estabelecerem conexões nas redes sociais em torno de interesses e valores. Ao mesmo tempo, coexistem as ações comunicacionais organizadas e de larga escala, impulsionadas por recursos tecnológicos de última geração. A perspectiva de generalização da Inteligência Artificial (IA) torna ainda mais desafiador esse panorama.

Nesse novo ecossistema, a capacidade de dialogar é testada ao limite. A retórica de convencimento, a partir de argumentos e dados, torna-se um exercício exaustivo, mas imprescindível para qualquer estratégia de comunicação que se pretenda bem-sucedida. A mera repetição de palavras de ordem ou de jargões de fácil assimilação mostra-se claramente insuficiente para dar conta da multiplicidade de vozes que assomaram ao ambiente digital, para o bem e para o mal.

É relevante também lançar luzes sobre a montagem de estratégias na área de comunicação, que costuma ser vista como uma resposta mágica para problemas de toda sorte. Dissociar o planejamento da comunicação de uma visão holística sobre a atuação de instituições públicas ou organizações privadas é condenar-se ao fracasso. Significa compartimentalizar a comunicação, confinando-a a alguns recursos de marketing e de iniciativas mais afeitas à publicidade.

A visão atualizada pressupõe uma abordagem orgânica da comunicação, em que as iniciativas nesse campo estão integradas ao planejamento mais amplo das instituições e organizações. Nessa linha, a comunicação passa a ser uma tarefa de todos, inserindo-se no cotidiano de gestores privados e de agentes políticos, devidamente preparados para essa nova maneira de atuar, com atenção plena ao impacto de suas ações na imagem e na credibilidade do universo que representam. Mais uma vez, o que se evidencia é a centralidade da comunicação no cenário contemporâneo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Back To Top