Um jornal do século 19 no quintal da inovação
A lista das dez empresas mais criativas do mundo no setor de mídia, em 2017, é previsível pelo menos em um aspecto: os veículos tradicionais de imprensa mal aparecem na relação apresentada pela revista norte-americana Fast Company, que tem foco em tecnologia e liderança no mundo dos negócios. A honrosa exceção é o Washington Post, tocado pelo demiurgo Jeff Bezos, desde que a Amazon adquiriu o jornal, em agosto de 2013.
No mais, é uma sucessão de empresas que se constituíram recentemente, a maior parte delas a partir do final dos anos 1990 e começo dos anos 2000. Nada que se assemelhe à trajetória de um jornal fundado ainda no século 19, como é o caso do Washington Post. Nomes como Buzz Feed, Vice Media, Refinery29, Cheddar, ProPublica, Radiotopia e Lenny são a realidade de um novo tempo na Comunicação, marcado pela tecnologia digital e os desafios da criação.
Os comentários da Fast Company, ela própria um exemplo de iniciativa recente e inovadora no campo da mídia, são reveladores dos caminhos percorridos pelo jornal de Washington, fortemente assentados no desenvolvimento de tecnologia própria, adaptada ao mundo jornalístico. Ferramentas para auxiliar os repórteres e editores a serem mais rápidos no manejo das notícias urgentes e novos softwares para levar seu conteúdo aos leitores de todo o mundo são alguns exemplos.
Mais interessante ainda são os frutos da conversa do editor executivo da Fast Company Noah Robischon com o fundador da Amazon, caracterizado como alguém que vem desafiando expectativas há mais de duas décadas. Como? – quis saber o jornalista que o entrevistava. As respostas passaram ao largo do uso de métricas e processos rigorosos, que costumam ser associados à trajetória vitoriosa da Amazon.
Ao invés disso, Jeff Bezos revelou a disposição de abraçar a incerteza, a experimentação e as inconsistências. O mundo da Amazon, ficou claro na conversa, não é orquestrado à perfeição. E Bezos não apenas tolera como gosta de lidar com o imprevisível. As novas ideias nascem de caminhos diferentes e com diferentes origens, foi a lição que ficou para o editor da Fast.
Tudo isso no embalo de sucessivos recordes de audiência no ambiente digital. No mês de novembro do ano passado, o Post ultrapassou a casa de 100 milhões de visitantes únicos em seus endereços na internet.