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Inovação é a chave para a sustentabilidade

Este ano de 2024 iniciou intenso. Na agenda, muitas conversas sobre sustentabilidade, tecnologias limpas, descarbonização da indústria, investimentos e financiamento a projetos ‘verdes’, mercados de carbono, oportunidades para novos negócios. São temas que estavam fortes no final de 2023, quando participei da 28ª Conferência das Partes da UNFCCC (COP28), em Dubai, e que deverão ganhar impulso neste ano e à frente.

O interesse por esses temas surge no contexto de uma crescente consciência das populações ao redor do planeta sobre os impactos da mudança climática nas vidas de todos (como as ondas de calor em 2023, a seca na Amazônia e as chuvas e inundações no Sul do Brasil). Esse interesse também se deve aos avanços nos compromissos dos países manifestados na COP28, ao maior protagonismo do mundo empresarial na descarbonização e à proliferação de oportunidades de negócios relacionadas ao tema. Ao final, a inovação é a chave para a sustentabilidade.

A COP28 emitiu sinais importantes

Iniciada sob o signo da polêmica, com debates e acusações sobre possíveis conflitos de interesse entre a agenda do clima e os interesses de negócios dos produtores de combustíveis fósseis, a COP28 se revelou um grande sucesso de público. Mais que isso. Embora o Acordo final firmado pelos países possa estar aquém do que precisamos e devemos perseguir, é notável que inclua o chamado a que todos os países contribuam para a eliminação do uso de combustíveis fósseis.

Estima-se que o evento realizado na Expo City Dubai tenha atraído mais de 170.000 participantes para atividades na Zona Azul, controlada pelas Nações Unidas e dedicada às negociações entre países, e na Zona Verde, aberta ao público e palco de exposições e variedade de eventos com entidades governamentais, bancos multilaterais, investidores, empresas, pesquisadores, universidades e sociedade civil. Além disso, a cidade abrigou inúmeros eventos paralelos que ocuparam hotéis, museus e centros de eventos.

A COP28 representou um marco no engajamento em larga escala, ao vivo e em cores, de diversos segmentos da sociedade na discussão global sobre mudanças climáticas e sustentabilidade. Decorrem daí duas questões-chave. A primeira é que esse imenso evento evidencia um interesse crescente por questões relacionadas ao clima e à sustentabilidade, especialmente no mundo empresarial e dos negócios. A segunda é que o tamanho e a complexidade da COP28 tornam difícil compreender a totalidade dos acontecimentos e atribuir sentido às inúmeras discussões e decisões.

Este artigo está centrado no primeiro desses aspectos, mas ao final ouso oferecer uma sugestão ‘ainda inovadora’ (explicarei o porquê do ‘ainda’) para aumentar nossa capacidade de compreender o que acontece em um evento desse tipo. Falemos então do engajamento do mundo empresarial com os temas relacionados ao clima e a transição energética.

O mercado no volante da descarbonização

O Acordo de Paris, assinado em 2015, tem como meta reduzir as emissões de gases causadores do efeito estufa de forma a manter o aquecimento global até 2100 abaixo de 2°C e, idealmente, abaixo de 1,5°C em relação aos níveis pré-industriais (antes da revolução industrial). Mundialmente, a produção de energia (eletricidade, calor e outras formas de energia) responde por 35% das emissões, seguida por agricultura e uso da terra (24%), indústria (21%), transporte (14%) e construção (6%). É natural, portanto, que a substituição das fontes de energia fósseis por energias renováveis seja uma prioridade.

Em 2022, pela primeira vez na história, com um total de 1,1 trilhão de dólares, o volume de investimentos em projetos de energias limpas no mundo superou o montante alocado a projetos de energias de fontes fósseis. Ampliando o movimento, no primeiro semestre de 2023, foram investidos $ 1.7 em projetos de energias sustentáveis para cada $1 aplicados em projetos fósseis – a IEA estima que a proporção tenha se mantido no segundo semestre. Enquanto isso, o mercado de bônus verdes e sustentáveis, atingiu a marca de emissões anuais da ordem de $1 tri, uma cifra até há pouco impensável.

Esses são sinais inequívocos de que ‘soluções de mercado’ são cada vez mais comuns; ou seja, o racional de negócios se mostra mais presente para investimentos sustentáveis. Apesar disso, os valores investidos ainda estão bem abaixo do necessário para zerar as emissões líquidas de gases de efeito estufa até 2025. Ademais, os investimentos têm se concentrado nas economias avançadas, em tecnologias maduras e na geração de energia – há uma lacuna de trilhões de dólares, especialmente para investimentos nos países em desenvolvimento, novas tecnologias e áreas de aplicação além dos projetos de energia.

Para atingir ‘net zero’ será preciso ir além da ‘descarbonizar’ a energia. Será necessário descarbonizar a manufatura, a agricultura e uso da terra, a construção, o transporte. Isso implica em reduzir o uso de combustíveis fósseis e, também, eliminar o desperdício de carbono em todos os tipos de atividades humanas.

Você já pensou que as emissões de gases causadores do efeito estufa são um resultado direto do desperdício de carbono? Ou seja, estamos liberando para a atmosfera um recurso que poderia ser utilizado para criar novos produtos e materiais, com o uso de tecnologias e modelos de negócios inovadores. Ademais, precisamos capturar carbono da atmosfera e, ainda, aumentar a eficiência no uso de todos e quaisquer recursos – água, terra, fertilizantes, minerais e materiais de todos os tipos.

Para que isso ocorra, precisamos de novos produtos, processos, empresas, cadeias de suprimentos e setores da economia que ‘desperdicem’ menos carbono. É com o olho nisso que as empresas estão progressivamente vendo a sustentabilidade mais como uma oportunidade do que como uma ameaça. Os sinais de que a sustentabilidade é uma grande oportunidade estavam evidentes na COP28.

As consultorias são cada vez mais demandadas por empresas e governos a desenvolverem e implantarem planos de descarbonização; por isso, tiveram uma presença maciça na COP28 e realizaram tantos eventos com atuais e possíveis futuros clientes e parceiros.

Bancos veem crescer a demanda de capital para projetos de energias limpas e descarbonização, enquanto sabem que a demanda futura para tais projetos será ainda maior; há uma corrida para desenvolver novas arquiteturas e produtos financeiros que permitam atrair mais recursos para projetos sustentáveis. Empreendedores de todo o mundo estão trazendo para o mercado tecnologias e modelos de negócios inovadores que reduzem as emissões e o consumo dos recursos do planeta; a COP28 foi uma grande oportunidade para exibirem seus produtos e serviços e buscarem negócios.

A grande participação empresarial em Dubai denota um interesse crescente por soluções e negócios sustentáveis. Isso acontece porque o problema de fundo está posto, mas, acima de tudo, porque cada vez mais o ‘caso de negócios’ da descarbonização e dos negócios sustentáveis dá bom retorno financeiro.

A descarbonização da economia mundial pode estar acontecendo em um ritmo ainda mais lento do que o necessário, mas a boa notícia é que está ganhando impulso. À medida que isso ocorrer, cada vez mais, os mercados impulsionarão a mudança e nos levarão para o futuro. Essa realidade abrirá novas oportunidades para empreendedores e investidores. Esses movimentos já estão em curso.

Há novas oportunidades para empreendedores

Empreendedores de diferentes startups nas quais investi diretamente via Aventures ou, indiretamente, via Seldor Capital, participaram aa COP28 em Dubai. Os casos dessas empresas fornecem ótimos exemplos sobre como inovação e sustentabilidade estão cada vez mais conectados. Vejamos um pouco mais a respeito.

A brasileira Energy Source é pioneira mundial em soluções para reparar, recuperar, reutilizar e reciclar baterias de lítio. A empresa dissolve as baterias e permite a reutilização dos materiais (Cobalto, Níquel, Lítio…), os quais vende no mercado e, quando refinados, podem até mesmo ser utilizados na fabricação de novas baterias.

A Cemvita faz a engenharia do DNA de microrganismos projetados para ‘consumir’ metano ou dióxido de carbono e produzir diferentes moléculas de saída. Um de seus projetos é a transformação de CO2 em combustível sustentável para aviação (Sustainable Aviation Fuel – SAF). Recentemente, a United Airlines assinou um contrato (offtake) no qual se compromete a comprar até 1 bilhão de galões de SAF da Cemvita nos próximos 20 anos.

Por fim, a Interstellar Lab, uma startup Franco-Americana, cria ambientes confinados (biopods) para a produção de alimentos e também plantas para as indústrias cosmética e farmacêutica. O sistema permite o controle preciso de umidade, nutrientes, ventilação, temperatura e frequência de luz, possibilitando a produção eficiente de variedades vegetais com uso mínimo de recursos, terra e água, e sem agrotóxicos. Os biopods usam 99% menos água que os sistemas tradicionais de agricultura.

Essas startups são revolucionárias nas suas áreas de atuação. A Energy Source redefine o ciclo de vida das baterias de lítio, a Cemvita usa biotecnologia avançada para produzir polímeros e combustíveis a partir de gases causadores do efeito estufa, e a Interstellar Lab abre novos caminhos para a agricultura sustentável.

Muitos dos segmentos de negócios nos quais atuam são novos e estão sendo criados neste momento. Essas startups e milhares de outras empresas e empreendedores participaram da COP28 em busca de novas oportunidades na emergente economia da sustentabilidade. Contudo, há muito ainda para os governos fazerem.

É preciso inovar na relação público-privada

Os mercados sozinhos não serão capazes de dar conta da crise climática. Para avançar a agenda de sustentabilidade com a velocidade e escala necessária, será necessária uma combinação de investimentos e iniciativas de governos e do setor privado.

O financiamento da transição energética e de projetos sustentáveis é um desafio considerável. O nível atual de investimentos relacionados ao clima (mitigação e adaptação) está aquém do necessário. O investimento global em 2022 foi de cerca de 1,3 trilhão de dólares, e, em 2023, chegou a 1,7 trilhão de dólares. Contudo, estima-se que o investimento necessário para que consigamos atingir a meta de aquecimento global limitado a 1,5oC deveria estar entre 5 e 11 trilhões de dólares por ano. A lacuna é grande. De onde virão os recursos que faltam?

Como vimos anteriormente, empreendedores e inovadores estão aproveitando muitas das oportunidades para empreendimentos sustentáveis que estão surgindo, mas também há oportunidades para investidores. Em meados de 2023, o presidente da BlackRock, a maior empresa de investimentos do mundo, compartilhou com investidores a visão de que há uma oportunidade de realocação de capital que hoje está ‘estacionado’ em títulos de curto prazo e baixo risco para outros tipos de ativos, inclusive e especialmente aqueles com foco em transição energética e sustentabilidade.

No já longínquo 2021, a Forbes publicou um artigo intitulado “A Oportunidade de Investimento de 100 Trilhões de Dólares na Transformação Climática”, baseado na análise de um relatório da  Agência Internacional de Energia (IEA) que delineava o caminho para se atingir emissões zero em 2025. Para concretizar essa ambição, o relatório apontava a necessidade de investimentos em energias limpas na ordem de 100 trilhões de dólares até 2050.

De um lado, os governos não possuem os recursos necessários para investir na transição energética e no enfrentamento dos desafios climáticos. De outro lado, observa-se um interesse crescente de investidores, empresas de investimento e da comunidade financeira global nas oportunidades relacionadas à transição energética e à sustentabilidade. É natural, portanto, considerar a mobilização de recursos de investidores privados para ampliar os investimentos globais em questões climáticas. Como, então, tornar isso uma realidade na prática?

Eu, você e todos os investidores privados, sejam grandes ou pequenos, com bilhões de dólares em ativos ou apenas algumas centenas de reais na caderneta de poupança, buscamos duas coisas: retorno para os investimentos e baixos riscos. Portanto, para que mais recursos privados sejam direcionados a projetos de transição energética e sustentáveis, é essencial que esses ofereçam taxas de retorno atrativas e riscos aceitáveis. O setor público tem um papel chave a desempenhar para que isso aconteça.

As discussões sobre finanças na COP28 focaram especialmente em como o capital público pode mitigar riscos e catalisar o investimento privado em projetos sustentáveis. Para que isso ocorra, bancos e instituições públicas devem, em primeiro lugar, focar no desenho de seus instrumentos visando atrair capitais privados, não substituí-los (como dizem os economistas, os instrumentos devem ser desenhados para buscar o ‘crowd-in‘ de capitais privados); em segundo lugar, associar-se de diferentes formas a investidores privados, organizações da sociedade civil e organismos multilaterais. Isso exige novos arranjos e, em muitos casos, novos marcos jurídicos para a atuação pública, ou seja, inovação institucional.

Como Diretor Executivo da GFCC, coorganizei uma “Arena de Inovação” durante a COP28, uma atividade conjunta da GFCC e do Conselho de Competitividade dos EUA. Nesse evento, que incluiu CEOs, diretores de algumas das principais instituições de pesquisa do mundo, gestores públicos, líderes da sociedade civil e investidores, moderei uma sessão na qual o Chefe da Delegação de Serra Leoa na COP28, Kandeh Yumkella, comentou as necessidades de investimentos em seu país. Naquele país, somente 30% da população tem acesso à eletricidade, o que ilustra a urgência de expandir a infraestrutura energética sustentável para regiões menos desenvolvidas. Como financiar investimentos desse tipo?

A atuação do setor público, agências de desenvolvimento e cooperação internacional, bem como de instituições multilaterais, como o Banco Mundial, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o Banco Asiático de Desenvolvimento (ADB) e o Banco Africano de Desenvolvimento (AFDB), entre outros, é particularmente crítica em países menos desenvolvidos.

Nesses ambientes, as necessidades são mais prementes, há menos projetos estruturados, os riscos são maiores, a disponibilidade de capital é mais limitada. Enquanto isso, as economias avançadas mobilizam a maior parte dos investimentos relacionados ao clima – em conjunto, a Europa Ocidental, o leste da Ásia e a região do Pacífico, o Canadá e os EUA representam 84% dos valores investidos no mundo.

Quanto mais complexo o ambiente, mais inovadores precisam ser os arranjos público-privados e mais importante é a atuação pública e multilateral (tomando riscos e/ou garantindo retornos, mas também liderando o desenho de arquiteturas inovadoras de projetos e financiamentos) para atrair capitais privados.

Além da questão do financiamento, as parcerias público-privadas são fundamentais em todos outros tipos de atividades e iniciativas que buscam promover a agenda de sustentabilidade. Isso vai desde o desenvolvimento de padrões de medição e reportagem de dados financeiros e de sustentabilidade até a pesquisa e o desenvolvimento de novas tecnologias, como destacamos na Call-to-Action ‘Innovate the Sustainable Future’ da GFCC. Inovação nos arranjos público-privados é chave e este é um momento crítico no qual os países são chamados a rever seus setups institucionais para serem mais efetivos nas suas ações relacionadas ao clima.

Estamos fazendo progresso?

De forma regular, as Nações Unidas (ONU) compilam dados e elaboram uma série de relatórios sobre o clima e as ações relativas à mudança climática no planeta. Como parte do processo das conferências do clima (COPs), os países assumem compromissos relativos à redução de emissões e são chamados a elaborar e apresentar ‘planos climáticos’ para atingir as metas as quais se propõem, como também a reportarem seu progresso.

Em 2023, na COP28, realizou-se o primeiro balanço estruturado (stocktaking) das iniciativas implantadas pelos países. Os resultado da análise prévia realizada pelo órgão da ONU para o clima revelou que o progresso realizado é insuficiente e é preciso ação urgente para que as metas do acordo de Paris possam ser atingidas. A existência de um processo de avaliação ao longo do tempo, com momentos de balanço das ações e resultados, é um avanço em si.

Uma máxima de gestão nos diz que não podemos gerenciar o que não medimos. Assim é com tudo aquilo que se refere à mudança climática e à sustentabilidade, no nível global e no micro; ou seja, em empresas e projetos específicos. É nesse quadro que, nas últimas décadas, proliferaram iniciativas, padrões e abordagens de medição e reportagem ESG, como GHG Protocol, CDP, GRI, SASB, PCAF e TCFD. Essas várias iniciativas e padrões refletem a complexidade e as diferentes necessidades das partes interessadas, variando desde investidores e reguladores até a sociedade em geral.

Os representantes de todas as organizações envolvidas com medições de sustentabilidade participaram da COP28. As discussões sobre finanças que acompanhei em Dubai reforçaram a importância da medição de sustentabilidade em todos os níveis, do global ao projeto. Mas há muito ainda a fazer nesse campo, desde a compatibilização dos frameworks existentes até o desenvolvimento de ferramentas digitais que possam reduzir a fricção do processo para as empresas e os custos associados. Nesse campo, a startup brasileira DEEP ESG (full disclaimer: investi nesta empresa através da Aventures) é uma das pioneiras e um dos players mais avançados no mundo.

Em junho de 2023, foram lançadas pela IFRS as primeiras normas contábeis internacionais que estabelecem como as empresas devem incluir em seus demonstrativos financeiros as informações relacionadas à sustentabilidade. A CVM acompanhou o desenvolvimento dessas normas e avalia a sua adoção no mercado brasileiro.  Aviso aos navegantes: a IFRS é a principal organização no mundo responsável por definir os padrões de demonstrativos contábeis a serem utilizados pelas empresas.

Esses padrões são adotados pelos órgãos reguladores das principais e da maioria das economias no mundo. Logo, faço uma aposta: em um horizonte não muito distante, serão incorporados no Brasil. E arrisco dizer que, para além da regulação doméstica, a adoção desses padrões será antecipada na prática pelas empresas que acessam ou buscam acessar mercados e fontes de capital no exterior.

À medida que aumentam as preocupações com o clima, a avaliação de projetos e a gestão de riscos sob a ótica do clima e da sustentabilidade se tornarão cada vez mais comuns na realização de investimentos privados em todos os tipos de negócios e setores da economia. O interesse de instituições financeiras, reguladores e investidores em dados e projeções (como esta realizada, no Brasil, pela DEEP ESG para o Banco BV) sobre emissões e sustentabilidade crescerá, abrangendo a economia, os setores industriais, as carteiras de investimento, empresas e projetos específicos.

O acesso a capitais, tanto públicos quanto privados, dependerá cada vez mais do rigoroso escrutínio das emissões. As empresas, especialmente as listadas em bolsa, serão obrigadas a reportar dados sobre emissões e sustentabilidade. Medir emissões e sustentabilidade se tornará a regra, não a exceção. Posto isso, há um vasto campo para inovar não somente em sustentabilidade, mas na medição de sustentabilidade.

Olhando além da COP28… é possível também inovar no processo

A COP28 em Dubai foi um microcosmo das complexidades, desafios e oportunidades que definem o cenário global. Tive acesso a uma parte muito pequena do universo de discussões e atividades, mas saí impactado e otimista. Mas também com duas certezas.

A primeira, fio condutor que une as seções deste artigo e que você certamente já sabe, é que a inovação surge como o elo crítico para a sustentabilidade, em todos aspectos e dimensões – em produtos, serviços, modelos de negócios, arquiteturas de financiamento, parcerias público-privadas, modelos institucionais, sistemas de informação para medição de sustentabilidade e muito mais.

A segunda é que, aos meus olhos e pernas (dadas as longas distâncias percorridas em Dubai), a COP28 sugere também oportunidades para se inovar na forma como organizamos e processamos as discussões em larga escala de temas complexos de relevância global.

Há um enorme potencial para se utilizar a Inteligência Artificial (IA) para analisar, conectar, sintetizar e ajudar a interpretar o significado de dados, informações, propostas, insights e percepções apresentadas, discutidas e geradas em conferências como a COP28.

Imagine que todas as atividades e sessões fossem transcritas e sumarizadas em tempo real, que fosse gerada uma representação visual de como os temas de todas as seções se conectam, que algoritmos pudessem criar um sumário de todos os casos e aprendizados compartilhados, que esse conteúdo fosse acessível em tempo real em qualquer língua a qualquer pessoa no mundo, que para cada seção fosse aferido o nível de concordância com as ideias apresentadas, que os interesses e propostas de países pudessem ser clusterizadas, que todas as ideias de projetos apresentados fossem visíveis a quem tiver interesse, que fosse possível a pessoas ao redor do mundo manifestar seu apoio a projetos e iniciativas específicas…. tudo isso e muito mais já é possível. Mas não vi nada disso ser feito lá ou em qualquer outro lugar.

Nada substitui as interações humanas. Porém, podemos acelerar nosso entendimento, julgamento e ação com o apoio de novas tecnologias que já estão disponíveis. Para muito além da COP28, é um campo aberto para a inovação. Quem se habilita?

 

Roberto Alvarez é doutor em Engenharia, investidor em startups no Brasil e exterior, e Diretor Executivo da GFCC (Global Federation of Competitiveness Councils), organização global sediada em Washington.

 

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