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Livro discute as múltiplas faces da capital brasileira

Um livro independente e crítico sobre Brasília, mas também capaz de lançar um olhar amoroso e reflexivo sobre a capital brasileira e seu futuro. Assim é Brasília aos 50 anos. Que cidade é essa?, que chegou ao público quando a cidade completou seu cinquentenário. A crise política devastadora que envergonhou seus habitantes, e coincidiu com a data, está contemplada na obra, que não se limita, no entanto, a enxergar Brasília pelo viés do poder.

Roteiros de afetos

Foto: Ricardo Labastier

Diferentes são as maneiras de habitar uma cidade. Muitas, as formas de interpretá-la. Nascida como proposta urbana de perspectivas arrojadas, a capital brasileira permanece incompreendida – política, histórica e culturalmente. Brasília aos 50 anos. Que cidade é essa? faz-se da pretensão de apresentar vários olhares sobre a cidade surgida da prancheta e construída ao longo de cinco décadas pelo esforço de seus habitantes. Do mapa à cartografia, cidades são roteiros de afetos, e a Brasília que emerge neste livro é assim: plural, complexa e contraditória, símbolo e exceção. 

“Os distintos enfoques conseguem, no conjunto, dissolver afirmações ingênuas sobre a cidade que, 50 anos depois de inaugurada, continua perturbadora e desafiante. Cidade-esfinge? Pois o leitor não será devorado”.

Ligia Cademartori

A capital pós-imperial

Brasília sintoniza-se mais com o projeto de uma esquerda intelectualizada do que com a sobrevida eficaz de estereótipos históricos destinados a confirmar o papel subordinado dos brasileiros no mundo. Na verdade, Brasília foi uma ruptura explícita com o imaginário colonialista que identificou o Brasil com o litoral tropical e cujas capitais, Salvador e Rio de Janeiro, até hoje o retroalimentam. Nasce no momento de um arranque nacionalista e desenvolvimentista que propugnava a construção de uma nova nação a partir do seu interior. Não é à toa que é tão difícil, ao falar sobre a cidade, escapar de uma perspectiva nacionalista. Não é à toa que o binarismo litoral/sertão reaparece quando se pensa Rio/Brasília.

Trecho do texto de Gustavo Lins Ribeiro, no livro “Brasília aos 50 anos. Que cidade é essa?”

Brasília estranha

Madrugada. O voo atrasara muito. Não foi fácil deixar os confins de Belo Horizonte. Do Novo Destino soprava uma brisa desconhecida, mais fria e fina, aguda o suficiente para insinuar-se entre os ossos. Depois da friagem, o silêncio. Normal: madrugada. Logo, no táxi, a paisagem: árvore-árvore-árvore, prédio-prédio-prédio, baixos e simétricos, escondidos pelo verde e geometricamente dispostos, a perder de vista, ao longo da autopista de asfalto macio.

— Moço, quando começa a cidade?

— Já passou a metade.

Trecho do texto de Mara Bergamaschi, no livro “Brasília aos 50 anos. Que cidade é essa?”

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