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Uma lista sobre o hábito de listas

Flávia Andrés Cataldo

“Saiba quais as dez melhores cidades do mundo pra se viver” ou “Sete esportes que fazem do Brasil um país de sucesso” são exemplos de títulos de artigos que certamente nos soam familiares. Não se sabe exatamente como e quando teve início o atual fenômeno dos textos em forma de listas, mas o fato é que nos deparamos com eles a todo instante.

Os chamados listicles (junção em inglês das palavras list e articles – lista e artigos) já existiam no mundo jornalístico há décadas, mas parecem ter adquirido força dentro das redes sociais por volta de 2009, principalmente através do Facebook e de uma famosa postagem de autor desconhecido: “25 fatos aleatórios sobre a minha pessoa”, em que as pessoas falavam delas mesmas e indicavam 25 amigos que deveriam repetir a declamação a respeito de si próprios.

Seguem abaixo os principais fatos sobre os listicles e a sua firme presença no nosso cotidiano:

Os subtítulos chamam a atenção em meio a tanta informação disponível na internet. Os olhos passam pelas partes destacadas, em negrito, em letras maiúsculas, e param somente naquelas que mais lhes interessam.
É muito mais fácil lembrar-se de um texto enumerado e fragmentado. Sob um ponto de vista visual, a memória tem mais facilidade de voltar ao local em que estavam as palavras, mais do que o significado delas em si.
Estamos todos com pressa, precisamos ser práticos. E o consumo de material informativo acompanha essa tendência.
Há uma – importante – democratização da informação. Qualquer tema, de qualquer natureza e complexidade, pode ser abordado através de um listicle. Dos cinco melhores cremes para o rosto, às nove decisões judiciais que podem mudar o país, a “itemização” de textos cobre assuntos de toda ordem e é acessível a públicos de todos os tipos.
A interpretação do texto fica mais simples. As listas em artigos trazem uma sequência ordenada de pensamentos e conclusões, tirando do leitor a necessidade de fazê-lo e de caminhar sozinho rumo ao próximo capítulo.
Sensação de dever cumprido. Ainda que estacionemos nos subtítulos e não nos aprofundemos nos temas tratados em cada parágrafo dos listicles, ao terminarmos de ler todos os trechos destacados a sensação é de missão cumprida, de texto lido – tudo pronto para o próximo artigo que aponta logo abaixo.
Categorização e classificação do assunto. Os listicles enquadram o tema principal do texto em determinadas categorias e digerem a sua problemática, o conteúdo se apresenta de maneira mais clara. Para Maria Konnikova, autora do livro Mastermind: Como pensar como Sherlock Holmes, a história é finita e a sua extensão é definida de antemão.

Peço licença ao Esperanto para adaptar o verbo do “fazer listas” aos nossos tempos. Listicles podem ser listigos em português bem claro. Os listigos nossos de cada dia.

Flávia Andrés Cataldo é advogada e pesquisadora nas áreas de Sociologia e Comunicação

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