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Big techs: mais perguntas do que respostas no cenário digital

Flávia Andrés Cataldo

Muito se discute atualmente sobre a posição das chamadas Big Techs, as grandes empresas de tecnologia, em um mundo cada vez mais pautado e envolto pelas mídias digitais. Companhias como Amazon e Google cresceram a níveis tão estratosféricos que torna-se quase impossível não pensar (e repensar) sobre os conceitos de monopólio, igualdade e concorrência.

A lista de discussão é extensa. Há o problema da regulamentação das atividades dessas empresas em cada país e entre países. Há a questão da crescente utilização de expedientes automatizados e redução da força de trabalho humana. Existe ainda o compartilhamento quase que fraternal dos dados pessoais de consumidores ao redor do globo, criando-se uma mailing list invasiva e de grande valor financeiro no mundo corporativo.

A resposta a todas essas questões e o rumo que tomam têm sobre nós, cidadãos comuns e usuários dos serviços oferecidos pelas grandes techs, um impacto muito maior do que objetivamente se pensa. Não se trata apenas de leis e impostos ou de exploração e publicidade.

A atuação das grandes companhias de tecnologia ressoa no próprio desenvolvimento da sociedade. Quanto mais presentes – com suas ditas práticas arrojadas e em sintonia com um público ativo e dinâmico – mais elas exercitam a sua influência sobre o modo como conduzimos a nossa vida de um modo geral.

Nas palavras do escritor americano Nicholas Carr, a propósito do trabalho do filósofo canadense Marshall McLuhan, “no final das contas, o conteúdo trazido pelas mídias é menos importante do que a própria mídia em si, em sua influência sobre como pensamos e agimos. Como uma janela para o mundo e para nós mesmos, uma mídia popular molda o que e como enxergamos – e se a usarmos o bastante, teremos nos transformado como indivíduos e como sociedade.”

Assim, o movimento dos governos no sentido de tributar empresas e regulamentar suas atividades em determinado local tem um resultado direto na sociedade envolvida. Veja-se, por exemplo, a questão do Uber nos Estados brasileiros e o quanto ela diz a respeito de como a nossa comunidade enxerga o conceito de locomoção, o direito de trânsito no meio urbano, a existência de pessoas autorizadas a profissionalmente transportar outras de um lugar ao outro, dentre outros.

Como ainda engatinhamos na era digital, as perguntas nesse momento certamente superam as respostas que se possa ter. Mas se colocarmos estas interrogações no contexto a que de fato pertencem, os diálogos acabam por tornar-se mais produtivos e eficientes.

Flávia Andrés Cataldo é advogada e pesquisadora nas áreas de Sociologia e Comunicação.

Lições de liberdade

Flávia Andrés Cataldo

Se você algum dia for à China, a passeio ou a trabalho, avise aos amigos e à família: seu Facebook, Twitter e, com alguma chance, também seu e-mail estarão fora de órbita.

Trata-se da política de monitoramento do governo chinês sobre o acesso e uso da internet no país. Há em vigor uma extensa lista de sites oficialmente banidos, que inclui Google (e suas ramificações, como o Maps, Docs e Gmail) e o jornal norte-americano The Wall Street Journal.

O The New York Times, por exemplo, vem há pelo menos duas décadas tentando penetrar no mercado chinês. Atualmente, grande parte de seu conteúdo encontra-se bloqueada e está além do alcance de leitores em potencial.

Palavras-chave foram catalogadas de modo a facilitar a atuação do departamento de controle e censura. Vão de ‘protesto’ e ‘comunismo’ a ‘democracia’, ‘despotismo’ e ‘ditadura’. Jornais de oposição são pressionados a adaptar ou encerrar suas atividades, e ativistas dissidentes têm sido processados e presos.

O pano de fundo de projetos conhecidos como Escudo Dourado e Grande Firewall da China segue um dos provérbios favoritos do líder politico Deng Xiaoping: “Se você abre uma janela por várias horas, deve pressupor que em algum momento insetos irão entrar por ela”.

Assim, o governo chinês espera que, ao limitar a entrada de informações no país, o mal que poderia voltar-se contra si próprio também estaria eliminado.

É aí que entra a possiblidade de aprendermos com a experiência alheia. Nós, brasileiros, que cada vez mais fazemos uso da internet e das mídias sociais. Nós que dividimos nossas vidas e opiniões com centenas (milhares?) de amigos, colegas, tios e primos, mas também com outros tantos desconhecidos. Nós que somos parte desse fervor crescente, que temos essa vontade de alimentar discussões acirradas sobre política, direitos sociais e outros temas de difícil consenso.

O que se vê nos círculos sociais, e por vezes nos noticiários, é que a exposição das nossas diferenças de opinião tem nos dividido de modo irreconciliável.

Se, por um lado, temos amplo acesso à informação, por outro, falta-nos apreço e bom uso das diversas fontes de notícia e conhecimento que nos chegam. Desfrutamos de irrestrita liberdade de expressão, mas frequentemente a levamos a um extremo desrespeitoso. Nosso julgamento moral é implacável.

Nós, brasileiros, temos privilégios de cidadãos livres, mas os dissipamos, o que contamina a nossa capacidade de melhorar como povo. É simples e complicado assim.

Flávia Andrés Cataldo é advogada e pesquisadora nas áreas de Sociologia e Comunicação.

Uma lista sobre o hábito de listas

Flávia Andrés Cataldo

“Saiba quais as dez melhores cidades do mundo pra se viver” ou “Sete esportes que fazem do Brasil um país de sucesso” são exemplos de títulos de artigos que certamente nos soam familiares. Não se sabe exatamente como e quando teve início o atual fenômeno dos textos em forma de listas, mas o fato é que nos deparamos com eles a todo instante.

Os chamados listicles (junção em inglês das palavras list e articles – lista e artigos) já existiam no mundo jornalístico há décadas, mas parecem ter adquirido força dentro das redes sociais por volta de 2009, principalmente através do Facebook e de uma famosa postagem de autor desconhecido: “25 fatos aleatórios sobre a minha pessoa”, em que as pessoas falavam delas mesmas e indicavam 25 amigos que deveriam repetir a declamação a respeito de si próprios.

Seguem abaixo os principais fatos sobre os listicles e a sua firme presença no nosso cotidiano:

Os subtítulos chamam a atenção em meio a tanta informação disponível na internet. Os olhos passam pelas partes destacadas, em negrito, em letras maiúsculas, e param somente naquelas que mais lhes interessam.
É muito mais fácil lembrar-se de um texto enumerado e fragmentado. Sob um ponto de vista visual, a memória tem mais facilidade de voltar ao local em que estavam as palavras, mais do que o significado delas em si.
Estamos todos com pressa, precisamos ser práticos. E o consumo de material informativo acompanha essa tendência.
Há uma – importante – democratização da informação. Qualquer tema, de qualquer natureza e complexidade, pode ser abordado através de um listicle. Dos cinco melhores cremes para o rosto, às nove decisões judiciais que podem mudar o país, a “itemização” de textos cobre assuntos de toda ordem e é acessível a públicos de todos os tipos.
A interpretação do texto fica mais simples. As listas em artigos trazem uma sequência ordenada de pensamentos e conclusões, tirando do leitor a necessidade de fazê-lo e de caminhar sozinho rumo ao próximo capítulo.
Sensação de dever cumprido. Ainda que estacionemos nos subtítulos e não nos aprofundemos nos temas tratados em cada parágrafo dos listicles, ao terminarmos de ler todos os trechos destacados a sensação é de missão cumprida, de texto lido – tudo pronto para o próximo artigo que aponta logo abaixo.
Categorização e classificação do assunto. Os listicles enquadram o tema principal do texto em determinadas categorias e digerem a sua problemática, o conteúdo se apresenta de maneira mais clara. Para Maria Konnikova, autora do livro Mastermind: Como pensar como Sherlock Holmes, a história é finita e a sua extensão é definida de antemão.

Peço licença ao Esperanto para adaptar o verbo do “fazer listas” aos nossos tempos. Listicles podem ser listigos em português bem claro. Os listigos nossos de cada dia.

Flávia Andrés Cataldo é advogada e pesquisadora nas áreas de Sociologia e Comunicação

Como as mensagens de texto mudaram nossas relações

Flávia Andrés Cataldo

Em junho último, a jornalista de multimídia Ankita Rao escreveu para o portal de ciência e tecnologia Motherboard (https://motherboard.vice.com) a respeito da influência do aplicativo iMessage nos relacionamentos e busca por namoros ou encontros românticos. Ela mostrou que o uso de programas de mensagem desse tipo – a exemplo do Whatsapp, líder no Brasil com 120 milhões de usuários – transformou significativamente o modo como nos comportamos e interagimos com outras pessoas.

Confira a seguir a tradução de alguns trechos do texto escrito originalmente em inglês e que aborda, de forma bem pontuada, hábitos que muitos de nós incorporamos e solidificamos ao longo dos últimos anos:

“Namorar hoje em dia é uma porcaria. Há, por exemplo, os paqueras que somem sem explicação – o chamado ghosting, em inglês. Há também pessoas desconhecidas que lhe enviam mensagens grosseiras e degradantes, em uma espécie de tentativa de conquista por intimidação – termo conhecido como negging. E há que se lidar com pelo menos cinco diferentes aplicativos (ou apps) de relacionamento no dia-a-dia. É uma vida difícil.

Pavani Yalla, líder de design experimental nos Estados Unidos, afirma que os elementos de comunicação visual dos aplicativos de mensagem são viciantes. Ela destaca os balões de fala, as animações de tela e o toque digital, diretamente focados em usuários jovens. A possibilidade de responder a mensagens com corações e polegares pra cima nos remete ainda – diz Yalla– às redes sociais nas quais já passamos várias horas por dia.

Há também as reticências animadas (“…”) e recursos similares que indicam que alguém está digitando, e o opcional sinal de visualização, que confirma quando alguém leu a sua mensagem.

São esses elementos que frequentemente injetam, em uma simples conversa, incríveis doses de ansiedade, frustração e autodesconfiança. E isso acontece, em parte, porque a comunicação por mensagens abre um grande espaço para mal-entendidos.

‘Especialmente quando uma das partes quer algo além de amizade, você não tem muito mais informações para se pautar além do tempo que outra pessoa levou para te responder’, diz Jeremy Birnholtz, pesquisador da Universidade de Northwestern, nos EUA. ‘Você irá se apegar a qualquer coisa que lhe pareça um sinal.’

As pessoas podem ainda se esconder atrás de mensagens de uma forma que não poderiam fazer pessoalmente ou pelo telefone. Nós muitas vezes usamos este novo escudo em benefício próprio, diz Birnholtz, seja para fingir que estamos ocupados ou para controlar o ritmo e a intensidade de uma conversa. ‘Sempre que houver uma ferramenta de comunicação, as pessoas poderão explorá-la’, explicou ele.

Mensagens de texto podem acelerar a experiência de um relacionamento ruim ou revelar as más intenções de alguém. Mas elas também podem proporcionar uma conversa positiva, e possibilitam que as emoções se esfriem após uma briga.

‘Não tenho dúvidas de que relacionamentos pioram com as mensagens de texto – alguns conflitos não podem ser resolvidos por mensagens’, afirma Birnholtz. ‘Mas também tenho certeza de que outros relacionamentos se fortalecem através delas.’”

  • Flávia Andrés Cataldo é advogada e pesquisadora na área de Sociologia e Comunicação

Os filhos da guerra

Por indicação de Gabriel Nogueira, estrategista e curador do curso Fractal sobre novos protagonistas da Comunicação, emerge a linguagem inovadora e delicada do documentário interativo Sons of Gallipoli (http://sonsofgallipoli.com/). Vencedor do prêmio honorário de melhor uso de vídeo ou imagens em movimento no Webby Awards 2016, o documentário relembra os 100 anos da Batalha de Galípoli, na Turquia, durante a Primeira Guerra Mundial.

Sons of Gallipoli foi garimpado pela equipe da AG2 Nurum, agência que integra o Grupo Publicis no Brasil, como exemplo de videonarrativa, o que remete mais a histórias do que a conteúdo. Nesse trabalho de análise de tendências de mercado, os especialistas da agência destacam que as videonarrativas “expandem as experiências ao unirem o universo lúdico ao informativo” e avançam em relevância nas plataformas e nos suportes de fácil acesso.

“Essas histórias ganham cada vez mais tons e linguagens refinadas com a utilização de motions, vídeos que permitem a interação e a ambientação, além de áudios que buscam uma imersão sensorial para o espectador”, acrescentam. Isso pode ser constatado na prática por quem assistir o documentário – e ao mesmo tempo navegar em seus diversos elementos interativos. O prêmio da Webby Awards, uma referência no universo virtual, é o atestado definitivo de sua qualidade.

As informações vão se conectando ao fio da meada da narrativa de forma harmônica, numa mescla de imagens, sons e depoimentos de historiadores ou moradores do local da batalha centenária. É com pouca estridência que essa história é contada, quase como um suspiro de quem se lembra de vidas, derrotas e perdas. Pelo olhar de duas mães – uma turca e outra australiana -, imagina-se o impacto naquelas que perderam seus filhos na luta. Duas mulheres em lados opostos, tentando entender o sentido da guerra.

Se o primeiro link falhar, este segundo facilita o acesso: http://sonsofgallipoli.com/#!/doc/1

Ilustração: imagem do Australian War Memorium

 

Um jornal do século 19 no quintal da inovação

A lista das dez empresas mais criativas do mundo no setor de mídia, em 2017, é previsível pelo menos em um aspecto: os veículos tradicionais de imprensa mal aparecem na relação apresentada pela revista norte-americana Fast Company, que tem foco em tecnologia e liderança no mundo dos negócios. A honrosa exceção é o Washington Post, tocado pelo demiurgo Jeff Bezos, desde que a Amazon adquiriu o jornal, em agosto de 2013.

No mais, é uma sucessão de empresas que se constituíram recentemente, a maior parte delas a partir do final dos anos 1990 e começo dos anos 2000. Nada que se assemelhe à trajetória de um jornal fundado ainda no século 19, como é o caso do Washington Post. Nomes como Buzz Feed, Vice Media, Refinery29, Cheddar, ProPublica, Radiotopia e Lenny são a realidade de um novo tempo na Comunicação, marcado pela tecnologia digital e os desafios da criação.

Os comentários da Fast Company, ela própria um exemplo de iniciativa recente e inovadora no campo da mídia, são reveladores dos caminhos percorridos pelo jornal de Washington, fortemente assentados no desenvolvimento de tecnologia própria, adaptada ao mundo jornalístico. Ferramentas para auxiliar os repórteres e editores a serem mais rápidos no manejo das notícias urgentes e novos softwares para levar seu conteúdo aos leitores de todo o mundo são alguns exemplos.

Mais interessante ainda são os frutos da conversa do editor executivo da Fast Company Noah Robischon com o fundador da Amazon, caracterizado como alguém que vem desafiando expectativas há mais de duas décadas. Como? – quis saber o jornalista que o entrevistava. As respostas passaram ao largo do uso de métricas e processos rigorosos, que costumam ser associados à trajetória vitoriosa da Amazon.

Ao invés disso, Jeff Bezos revelou a disposição de abraçar a incerteza, a experimentação e as inconsistências. O mundo da Amazon, ficou claro na conversa, não é orquestrado à perfeição. E Bezos não apenas tolera como gosta de lidar com o imprevisível. As novas ideias nascem de caminhos diferentes e com diferentes origens, foi a lição que ficou para o editor da Fast.

Tudo isso no embalo de sucessivos recordes de audiência no ambiente digital. No mês de novembro do ano passado, o Post ultrapassou a casa de 100 milhões de visitantes únicos em seus endereços na internet.

E pur si muove

Há quem acredite que o mundo seja imutável ou que as mudanças estruturais estão sempre fora do alcance do nosso tempo. E há quem veja sinais de transformação, mesmo em escala menor, o que exige paciência e determinação no olhar e no sentir. O caso do antes-e-depois na publicidade das marcas de cerveja no Brasil pode ser visto assim, como um sinal de reconhecimento da evolução há muito registrada na sociedade.

http://www.meioemensagem.com.br/home/comunicacao/2017/02/02/o-antes-e-depois-das-campanhas-de-cerveja.html

Em nome da convivência

Beth Cataldo

Na era dos bytes, ferramentas e gadgets tecnológicos em profusão, é muito interessante que alguém levante o olhar, como faz o sociólogo Dominique Wolton, para lembrar que comunicação não tem apenas a face tecnológica, ou predominantemente tecnológica. Mas sim que remete à história, política e cultura. Essa visão humanista a que se propõe o autor de Informar não é comunicar (Editora Meridional/Sulina) apresenta-se como um antídoto à concepção tecnicista do processo de comunicação.

Mais do que isso, Wolton insiste que “tirar a comunicação do império da tecnologia” significa inseri-la no ambiente de negociação e convivência, próprio da cultura democrática. O sentido da comunicação para ele é justamente o de respeitar a alteridade, construir caminhos de coabitação e estimular a tolerância entre pontos de vista frequentemente antagônicos.  “A tolerância é uma das condições estruturais de qualquer processo de comunicação” – ensina.

O momento brasileiro, marcado pelo profundo antagonismo no campo político, não poderia ser mais propício para se visitar Wolton e desfrutar sua percepção antropológica da comunicação. A dissensão política e ideológica vivida pelos brasileiros, com suas trincheiras fundas e quase instransponíveis, assemelha-se ao processo que ele descreve como “incomunicação”, que costuma levar a consequências belicosas se não for superado pelo esforço de convivência democrática.

Transcender as ferramentas tecnológicas e passar ao largo do triunfalismo da informação onipresente e opressiva nos dias de hoje pode abrir espaço para se respeitar e organizar a convivência entre as diferenças, como propõe Wolton. Afinal, ele argumenta, “o diabo da alteridade infiltra-se em todas as trocas comunicativas”. É esse outro, pouco conhecido ou reconhecido, que ele convida para o centro da arena midiática ao reforçar o conceito fundamental da sua teoria da comunicação.

Para um pensador mergulhado no ambiente europeu de reafirmação de identidades nacionais excludentes, com a crescente rejeição à imigração daqueles que vêm de outro mundo social, étnico e religioso, o recado de Dominique Wolton não poderia ser mais claro. “Tolerância ou conflito de culturas” é como ele caracteriza o desafio que o mundo globalizado tem pela frente no século 21.

Convite generoso

Enredado em seus conflitos internos, o caso brasileiro é muito menos de intransigência com grupos de imigrantes estrangeiros e mais de desencontro exasperado dentro de suas próprias fronteiras. A lição, no entanto, é a mesma. Negociar pontos de vista contraditórios, conviver, coabitar. Ou, então, dissentir, conflitar, numa guerra de extermínio sem fim. Didático, Wolton se desdobra em explicações: “Conviver é respeitar, tolerar-se, ir mais longe, interessar-se pelos outros”.

Nesse contexto, ele define a comunicação como “um convite à experiência e à tolerância”. É nessa relação complexa e desafiadora que o autor concentra sua energia intelectual. Como reitera, não só a comunicação vai muito além da transmissão de informações, como também não se resume às redes – essa palavra que se tornou mágica nos nossos tempos. As redes têm características homogêneas, evidenciam um agrupamento de iguais, fenômeno mais próximo do que ele chama de comunitarismo.

Como fica a problemática mais complexa da sociedade? – pergunta. “Em sociedade, é preciso reunir não apenas aqueles que compartilham valores e interesses comuns, mas também aqueles, mais numerosos, que são diferentes”. Diga-se que ele ressalva a importância de a sociedade estabelecer-se em bases igualitárias, justamente para favorecer a troca de pontos de vista em condições equânimes. Ainda toca em outro ponto nevrálgico, ao assinalar que é preciso passar “da ideia do compartilhamento à de negociação e coabitação”.

Por fim, sua concepção também coloca em segundo plano a expressão meramente pessoal ou a experiência da interatividade proporcionadas pela internet dos nossos tempos. De novo, ele insiste, é preciso ir além do ponto de vista individual e aceitar posturas divergentes para se caracterizar um processo efetivo da comunicação. Frequentar as entranhas das redes sociais no Brasil certamente ajudaria Wolton a reforçar ainda mais suas convicções e seus temores.

Tema lança livro de Cristovam Buarque

A Tema Editorial tem novidades: o lançamento do livro de Cristovam Buarque sobre os erros dos governos progressistas. Com o título Por que falhamos: o Brasil de 1992 a 2018  o texto traz uma reflexão necessária e urgente sobre o período em que os governos de orientação progressista e democrática estiveram no poder, e que terminou com a guinada conservadora nas eleições de 2018.

Com um texto contundente e direto, o autor aponta a frustração da expectativa de que, nesse tempo único na história brasileira, seriam concretizadas as transformações estruturais ansiadas pelo país. Na sua avaliação, a mancha da corrupção e a defesa dos interesses corporativistas ficaram como marcas incômodas desse período.

Ao escrever na primeira pessoa do plural, Cristovam Buarque assume sua parcela de responsabilidade pelos acontecimentos que atravessaram um quarto de século e legaram um país sem coesão e sem rumo. Como intelectual e militante de esquerda, sua preocupação é evitar a busca de culpados individuais ou de erros menores no decorrer dos processos eleitorais.

A visão desse autor comprometido com os destinos do Brasil é que os chamados líderes democratas-progressistas “não estiveram à altura do desafio que a história nos ofereceu”. Mais do que isso, ele acredita que a construção do futuro começa pela autocrítica do passado: “Não há como acertar os passos na jornada em frente, sem lembrar das pedras que provocaram tropeços nos caminhos anteriores”.

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